Dias de abandono, Elena Ferrrante
Várias estrelhinhas
Elena que não é Elena. Identidade misteriosa. Especula-se serem várias pessoas por trás desse nome ou mesmo apenas uma. Um homem? Quem sabe. Mulher? Só sei que mergulhei junto com Olga no abandono do seu esposo em um relacionamento aparentemente bom. Para Olga, claro.
Em muitos momentos faltou-me paciência para as dores da personagem. Queria uma reação. Achava um absurdo alguém descer tão fundo em nome de um amor perdido, um casamento desfeito.
Porém, reavaliei e admiti: minha atitude diante da história equivaleria a “ forças, tem gente em situação pior” ou “isso é falta de Deus” para um depressivo, ou seja, falta de noção e insensibilidade total. E assim quando veio sua redenção, a minha vergonha emergiu automática: ali apenas estavam todas as fases, verdadeiras e reais, do íntimo de muitos que se permitem vivenciar os términos.
Através dela, em um ponto da trama que julguei primordial, enxerguei o quanto revisamos a vida diante de situações que inspiram finitude, como já escrito por Eliane Brum em uma de suas colunas reunidas em A menina quebrada: “ Não se fala da morte por causa da morte, mas por causa da vida. Lidar bem com a certeza que todos temos de morrer um dia é fundamental para viver melhor. E para alcançar a matéria fugaz dos nossos dias”. Assim absorvi.
Daí em diante me reconectei com a história de maneira mais madura, assim como Olga encontrou o seu tom. Admirei a personagem por cada descrição inteligente e vívida. Um enredo crível do começo ao fim em que o seu final não me arrancou suspiros floridos, mas sim a percepção de como a vida pode ser remodelada se a encararmos de frente ou se só olharmos para o lado. ⭐⭐⭐⭐⭐
*Post reeditado de 04.08.2018. Originalmente publicado no insta @marias.le, já desativado.